“A perfeição não é alcançada quando não há mais nada a ser incluído. A perfeição é alcançada quando não há mais nada a ser retirado.”
―Antoine de Saint-Exupéry
Acho incrível que tantas coisas podem acontecer na velocidade de um piscar de olhos. Só mais incrível do que isso é a relatividade do tempo. Extrapolando conceitos aqui, me encanta mesmo é a relativação de quanto dura cada período da vida. Ontem me parece 2011 -última vez que escrevi aqui. Ontem também me parece 2006. Pisquei e cheguei em 2014.
Desse fluxo de pensamento insano eu levo a certeza que envelheci. Na minha adolescência nunca dei a mínima para quão rápido o ano estava passando. Não se dá importância para a ladainha de falta de tempo quando nos falam repetidamente que temos muita vida pela frente. Até temos. Ainda tenho. Mas se eu olhar para traz vejo que vivi quase um quarto de século. Um quarto de século. Uma quantidade absurda de vida vivida e eu ainda me sinto uma criança.
É que pareço ser a mesma pessoa desde sempre, sabe? Aqui, para mim.
Não que eu não tenha mudado no espelho, nas condutas, nos gostos e nas escolhas.
Óbvio que mudei.
Mas nossos desejos não envelhecem.
Sigo aqui com mil e uma coisas que gosto desde a infância.
E outras coisas que, verdade seja dita, só gosto porque sou criança.
Que triste é tentar esconder que nossas escolhas são moldadas pelo nosso passado.
É tão patético e tão recorrente tentarmos fingir que somos plenamente maduros.
Por um bom tempo tentei estabelecer metas de amadurecimento.
Sei lá, qualquer marco que me dissesse o quão responsável, adulta e independente eu sou.
Hoje meio que desisti disso. Amadureci do nada, de uma maneira meio torta e completamente incompleta.
Fico me perguntando se é assim para todo mundo.
Chega a ser um tanto estranho imaginar que todos os adultos que conhecemos um dia já foram adolescentes.
E de tudo o que já me intrigou na vida, sigo sem entender o padrão de armazenamento das nossas memórias. Lembro com requintes de sinestesia de certos momentos assim como descartei como lixo tantos outros.
Nunca vou entender o que nos faz esquecer e o que nos motiva a lembrar.
Até sei. Sentimentos são a explicação para muita coisa.
Mas daí vem a questão: o que será que nos impulsiona a desenvolver certos sentimentos em determinados momentos moldando uma lembrança tão forte que é capaz de resistir bravamente a quaisquer intempéries decorrentes da passagem dos anos?
Só que, francamente, não pretendo entrar nesse assunto.
O que sei mesmo é que consigo pensar com ternura em todo o tempo que vivi.
Consigo amar todos os recortes de vida que a minha memória guarda. Tenho um carinho imenso por mim mesma e pelas decisões que tomei. Todas elas.
Finalmente cheguei em um ponto da minha existência no qual consigo ter um orgulho pleno da pessoa que me tornei.
E tal plenitude advém da aceitação de que meus erros mais absurdos e minhas falhas mais notáveis também são parte fundamental do que eu sou.
E como sempre que chegamos ao fim nos reportamos ao começo, volto à citação do início desse texto:
Conquistei a perfeição aos meus 24 anos. Da minha vida não há nada a ser retirado.
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