Friday, November 14, 2008

Cartas a ninguém.

E como vão as coisas por aqui?
Pois digo que tudo anda muito bem, obrigada.

Sou a prova viva da lei da compensação.
Na falta de um coração, desenvolvi cérebro.
Espertinha, não é mesmo?
Virei PHD nos joguinhos que, antes, só você dominava.

Sim, agora também sei jogar. E jogo muito bem, por sinal.
Controlo meus sentimentos de uma maneira impressionante.
E, por mais impossível que isso pareça,
me apaixono e me desapaixono com a mesma velocidade.
É cruel e divertido. Um jogo de xadrez: movimentos calculados.

Agora entendo por que você freqüentava tanto as baladinhas daqui.
Paixão volátil é o melhor passatempo que existe,
dá mais bem-estar do que super-dose de prozac,
dá mais auto-estima do que uma dose de tequila.
As pessoas entretêm muito.
E, no amor, tudo vem acontecendo com o mesmo prazo de validade de uma alface.
Uma semana (se muito) e lixo.

Se eu continuo te amando?
Ora, não sejamos ridículos.
Nós dois sabemos que eu vou te amar para sempre.
Que você sempre será meu primeiro amor de verdade.

O menino ao qual tenho olhos.
O menino que me desbanca com um olhar, ou menos do que isso.
Aquele que a presença no mesmo ambiente já é o bastante para me deixar perdida,
sem rumo..
ou melhor, me deixa com um novo e único rumo: você.
Paro tudo. Volto meus olhos, minha mente a ti.
Me devoto a ti, com a paixão cega de uma cristã que vai a missa todo o domingo, durante toda sua existência.

E, realmente, só você é capaz de despertar em mim uma fervorosidade cristã.
Nunca, em toda minha vida, lembro de ter chorado e rezado tanto por alguém como chorei e rezei por ti.
Para que você ficasse bem, que não morresse por causa daquele maldito acidente.
Que tivesse uma vida plena e feliz.
Como, graças a Deus, hoje -até o ponto que eu sei- tu tens.

E acho que aí está a sutil diferença.
É natural odiar a figura do ex.
Querer que ele sofra, que broche, que morra.
Não, não com você.
Eu te amo demais para isso.
Amo acima de qualquer sentimento de ódio ou rancor.
Amo com certa gratidão por você ter me apresentado o amor.
Amo porque não teria outra escolha. Amo, apenas.

Mas, meu caro, não sejamos utópicos...
não posso e nem devo te esperar para sempre.
E não vou esperar.
Porque, no fundo, eu sei que você nunca vai chegar em minha vida de mala e cuia.

Por essas e outras,
mesmo que eu seja a menina mais deslocada nas festas de sábado à noite. Estarei nelas.
Pode procurar nas fotos das colunas sociais.
Estarei lá.
Sóbria ou não. Acompanhada ou não.
Com cara de Capitu ou de Lucíola.
Mas ainda assim, lá.
Com um único e simples propósito: provar que sou forte.
Provar a mim mesma.. ( até porque, eu sei que você não se importa se eu estou viva ou não)


E eu vou ser feliz.
Cedo ou tarde. Hoje ou amanhã.
Solteira ou com um moreno-capa-de-revista ao meu lado.
Com toda a certeza do mundo eu vou ser feliz –mesmo que hoje não seja.
Porque você foi tudo na minha vida.
Mas agora não é mais.
Perdeu essa honra. E a sua atuação fica restrita às páginas de 2006.
Empoeirado, amarelo e fedendo a naftalina.

Eu juro por tudo que é mais sagrado que, um dia, eu vou te ver chegar e não vou sentir nada!
Isso mesmo, NADA.
Nem ódio, nem tesão, nem nostalgia, nem amor.
Nada, nadinha.
Eu, que já consegui ser uma fria com todos os outros, serei com você.

Prometo para (e por) mim mesma.
Que não ficarei presa a você.
Continuarei com esse amor no peito para sempre, eu sei disso.
Mas isso não significa que eu não vou conseguir ter uma vida plena sem você.

Eu prometo, preciso, imploro...
um dia, ou alguns minutinhos, ou talvez apenas segundos,
eu não irei sentir falta de você.
É uma questão de honra.